sábado, 16 de março de 2024

Quando a leitura te devora...


 

Folheou as últimas páginas.

- Gostou da leitura? - Ela disse com expectativas. 

- Muito. Achei muito excitante.

- Fico feliz que tenha gostado. Foi um grande desafio.

- E você o superou com talento e requintes de crueldade eu diria. Estou seu fôlego até agora.

- Então recupere logo o fôlego. Temos muito pra conversar.

- Não posso me demorar, a vida me aguarda para me foder sem dó, entre espinhos e chicotadas.. (ele parou de falar pois o metal da algema tinha estalado em seu pulso e ele ficou tão surpreso com aquele movimento tão ágil, que se perguntava se estava alucinando)... o que é..?

- Agora quer falar? - Ela prendeu o outro pulso dele, antes de arranhar as bochechas com nenhum pudor, mas com algum carinho.

- Veja bem, eu fico lisonjeado mas...

- Você deveria perguntar de onde tiro minha inspiração. Mas homens tem dificuldade de pensar com o desejo rondando. Falta sangue ao cérebro de você. (Um beijo e ele já estava entregue). Me inspiro em controlar essa descontrole (os dedos sentiram e correram e a boca foi murmurar ao pé do ouvido). As câmeras vão guardar tudo. Para o meu deleite futuro.

- Assim parece que é um caminho sem saída...

- Ó não. SÃO muitas as saídas. A mão que governa esse melado cajado bem te guia à meta que você deseja. Mas que não merece.. nunca mereceria. Minha carne de tormenta te vê e emoldura, mas você ainda caminha como a cera quente da vela a correr-te a espinha.

- Aaaahhhhh.

- De joelhos. Te deixo. Beba da rainha. O suco mais doce, verdadeiro mel e ambrosia do Olimpo. Fonte de toda a vida. Cavalgo seu ar, seu verbo e sua primazia. Homem de pouca fé. Sou Lilith, a primeira, sou Zulmira, a última. (Os olhos dela brilhavam).

- Delícia, perfeita. Me solta para eu te...

- Prender? Conduzir? Silenciar? Aqui eu te ponho sentado. Enforco seu pescoço, te permito um canto nesse contato. Te fodo. Te como. Te embuceteio. Te apresento o infinito, ser pequeno. Escorrego no íntimo do âmago do movimento mais lento, em que a grossa cabeça liberta da pele se esfrega tal qual cobra para a toca, sem limite de tanto mar que há lá dentro. E tudo segue. Tudo. Até o encontro preciso do limiar dos caminhos. E ali o universo nasce. Rebolativamente. O jeito mais tenso de relaxar, por mais que seus pulsos acorrentados estejam doendo. É me ter que está te acontecendo. Assim vou saindo.. voando.. te renomeando, enquanto meu perfume vai te envolvendo. A erva do meu poder te invadindo as entranhas. E a força é tamanha. Há. Sua pélvis quica, eu já sou furacão te percorrendo. Me morde, me lambe e sabe. Sou a dona eterna agora do seu pensamento. Tudo é pequeno, homem pequeno, ante o poder do meu inspirar te valendo. Por isso você segue. Sou teu horizonte. Sou a potência dessa trepa inigualável, imanente e inconsequente. Sou o precipício e a vertigem. O remédio e o vício. O ventre, a verdade e o abismo. Sou quente. Oceanos eu tenho em cada poente. Não pare, é só terremoto que te aguarda. 

- eu.. não.. 

- Tolo. São assim todos. Tortos. Ao final, mortos. E eu sigo faminta e com um bom livro pra publicar.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Planos de um novo ano



Já era um novo ano

Ela tinha tantos planos

A começar pelo vestido

Perfeitamente definindo

Aqueles contornos de infinito

Que só ela tem

Mas ele via além

E já vinha sorrindo

Ela disse "nem pense nisso"

E ele cantou

"Só penso nisso"

A cada dia

Em todo momento

Tudo nas minhas ideias

É o nosso movimento

Desde o mais lento

Ao mais frenético 

E já havia uma mão percorrendo o infinito sob aquele vestido

E além

"Eu vou me atrasar"

Pois eu soube que nesse ano você vai dançar 

Até se acabar

Como minha poesia a se aconchegar nesse cangote

"Eu.. volto.. pro trabalho hoje"

Mas já estava dado o bote

O enrosco

A definição de tempo foi a última coisa definida possível 

Onde ele começava e ela terminava havia 7 mares profundos 

As pernas fortes pelos corres da vida e da pista

Já tremiam no correr arranhado dos dedos

A vida lá fora seguia trabalhosa

Mas agora era ela que ia dar trabalho

O plano agora era que a vida toda lá fora que se fôda

Espalhados pelo chão

Numa entrega maior que a mega da virada

Ela esticou sua rebolada mais renovada e safada

"Agora, então, a gente acontece"

Mais e mais

Como a chuva que cai sem parar lá fora...

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Domingo


Me perdi no domingo

Bebi tudo até o último pingo

Trabalhar no dia seguinte parecia castigo

Mas ainda tava caçando perigo

Ou abrigo

Que o calor era infernal

Foi aí que ela chegou feito vendaval

Não era só o olhar sensual

Era a aura de deusa da porra toda

O sorriso de te acabo fácil fácil

Tudo nela parecia precipício 

E eu por vicio 

A convidei para uma rima

Uma música, alguma lírica 

Uns drinks em Paris

Ela riu como quem diz

Me convença 

Mas antes do que você pensa

Já havia contato

Olfato, paladar e todo o tato

Palpitar

Ninguém fazia ideia de onde as roupas foram parar

Ou quem apagou a luz enquanto a porta batia

Tudo era vontade vadia

Unhas rasgando as costas

Mordidas devorando pescoço

O gato pulou da cama enquanto podia se salvar

Nenhum dos dois estava ali para brincar

Cada gemido era uma saraivada de desejo

Cada delírio começava e terminava com beijo

Cada lábio recebia a invasão melada por inteiro

O mundo inteiro quicava

Não havia como parar de estapear aquela raba

Como não se afogar

Na força daquele olhar

Como não escalar do umbigo ao infinito

Enquanto vinha mais e mais e ainda mais o agito

Tudo voava

Ao mesmo tempo que toda estrela cadente despencava 

A Valquíria cantava

Gozava

Marcava

Dominada dominava aquela cavalgada 

Até o grudar envolver as realidades pulsantes tão díspares quanto entranhantes no âmago de tudo que houve, há e haveria

Mais um instante

Até serem de novo

Dois amantes 

Famintos

Num domingo

quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Presentes




Acordei no limiar do fim do ano

Já era época de fazer planos

Para 2024

Mas estávamos ali pelo quarto

Semiacordados de fato

Ali no limite entre o real e o abstrato

E o correr dos dedos invocou o ato

Bastou um leve toque pra trazer o arrepio

Que subiu pelas costas tanto suave quanto atrevido

Para chegar na nuca como nunca

Chegar anunciando

Que a boca logo vinha

E para isso tinha um universo de peito e coração agitado colando nas costas

Como eu sei que tu gostas 

Façam suas apostas

Exato

Ela se derreteu

E ele ainda mais se atreveu

A completar o encaixe 

Da mão esquerda que abarca um seio

Dos dedos suaves no mamilo

A direita endireita o desejo no quadril

Solta a cintura

E a vontade toda dura

Possui o mar em ondas de necessidade

A verdade é que aqui é ela quem comanda a maldade

Ela cria um beijo faminto de pura voracidade

Sem deixar a rebolada perder em velocidade 

E eles deliram 

Se o ano acaba ou começa

Eles esticam ao infinito

Porque não há tempo ou espaço

Para além desse fogo nessa cama naquela trama 

Em cada gemido conjugado que o casal derrama

E então

A explosão

Só amplia a chama 

Faz tudo sanha

E é a senha

De que vem mais presente por aí

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Sabe...

 Cedo

Bem cedo mesmo 

Antes do dia apresentar seu enredo

Eu meio a esmo

Tateei você

Semi despida

Reflexiva 

Com a vida em carne viva

E minha vontade mais atrevida arranhou o teu ser

- Sabe...

E o que veio depois não cabe

Nas rimas que um poeta é capaz de fazer

Era tanto beijo

Tanto cheiro

Tanto aperto

Tanta pele grudada

Tanta loucura transbordada

Que o certo virou incerto

Que o bater dos peitos ficou tão perto

Tão lá dentro

Tão no íntimo

Que refez o centro

Dobrou o tempo

No correr dos dedos

Carinho e cafunés desfazendo nós e medos

E nós... ah, nós... só há nós... mais e mais nós... 

- Já é tarde...

Ainda arde

Em cada parte

Nossa arte

Enroscamos as pernas

Certas rimas são eternas 

Mas outras são fulgazes

Pro fogo que trago

És mar

A ir e voltar

Me banhar

Correntezas profundas a me tragar

Sem fim

E seguimos assim

Eu só querendo saber de você

Você deusa eterna de mim

sábado, 26 de agosto de 2023

Velocidade ou Sem parar

 


Ela entrou no carro

Acelera!

Espera é que...

ACELERA!!!

Sem saber o porquê

Um contato que esbarro

Piso no acelerador 

Grita o motor

Canta o pneu

A velocidade cresceu

Ela grita mais uma vez

ACELERA!!!

O mundo vira um borrão 

Ela relaxa no banco de couro

O olhar já agradece

Aquilo vale mais que ouro

Ele mantém o câmbio na mão

Tocando a coxa

Escapei de um trouxa

Ela falou

Com um carinho no braço

Estranhos com um laço

E sem embaraço

Os dedos dela um caminho traçam

Haviam muitos carros na pista

Os olhares por um instante encaixam

Ela acha o espaço

Quando ele desacelera na curva

Ela pula

Você é louca

Você ainda não viu nada... acelera!

Sem ligar mais pra acidente 

Ele seguiu em frente

E ela com todo jeito

Deu aquele jeito

Fez do mustang veloz o leito

Grudados cada vez mais rente

Ela mordeu o pescoço

Assumiu o câmbio do homem

Com fome

Engatou a primeira

Faceira 

O resto é besteira

Meteu então a segunda

Rebolada safada da bunda

Esquecido de tudo ele soltou um tapa naquela maravilha profunda

Terceira 

Alguém buzinou lá fora

Ela adora

Muito mais ela devora

Já quicava desvairada agora

A quarta

Farta

Ele inteiro em cada pedaço ela abarca

Ele mantinha os braços firmes

Tudo duro

Tudo quente

Cada vez mais rápido

Eles iam queimando pelo asfalto 

Quinta

Sinta

Sem santa 

Só diaba

Me acaba

Quica essa raba

Danada

Ela delirava

Mais e mais ela desembestava

Infinita

A sexta

Ah... a sexta

Que a gente não é besta

É aí que a gente se beija 

Que tudo explode

O carro capota

Ah não fode...

Mortos 

Tortos

Eternizados

terça-feira, 27 de junho de 2023

Um dia de prosa

- Tem dia que nem tudo cabe na poesia. Hoje, eu bem preciso de prosa...

- Capaz que eu possa te ajudar.

- Foi você que eu pensei em convidar. Achei que podia passar e ficar. Beber uma cerveja gelada, dar aquele enrolada enquanto a conversa vai ficando animada. A atenção então vai se deixando enroscada. Quando vê... bem... quando vê já não é a visão que domina a empreitada. É o cheiro, a eletricidade no arrepio, a secura na boca, essa coisa da vontade ir ficando cada vez um tanto mais louca...

- Isso ainda é coisa pouca. Te profano e devoro com um canto de olho. Qualquer um vê como eu te reconfiguro e deleito com uma encarada animada.

- Primeiro a gente admira. Um tanto mais a gente venera. Simpatia sincera. Mas espera, você sabe. É tanto desejo que não tem tempo ou espaço suficiente em que essa irrupção indefinível cabe. Eu sei que você sabe. O sorriso tá me dizendo. Eu vejo ele nascendo. Eu sinto. É meu absinto. Te roubar esse sorriso. É a fresta que eu preciso, para arranhar o seu fogo. Me queimo logo. Me queimo todo. Teimo. Eu quero o desassossego.

- Não nego. Esse incêndio eu até rego.

- Uma rima?...

- Isso é coisa sua. Eu tanto estou nua, quanto alada. Não importa. Eu quero queimar, explodir, gozar, correr, viver, qualquer intervalo nessa fábula mal contada. Eu bebo, num gole só se eu quiser, devagarinho se preferir. Mas do meu jeito.

- Eu aceito. Com sua nudez no meu pensamento todo dia eu me deito. Com cada voo seu eu me deleito. Não tem jeito. Eu rimo. Me animo. Me aninho. Subo mordendo. Sem remendo. Apertando grudado e entranhando. Firme. Faminto. Envolvo envolto em volta de tantas voltas que não tem um canto do carne que não seja nós. Dois. Um. Mil. Tem beijo vadio no pescoço. Tem um troço. De um encaixe único que só pode ser nosso. E eu devoto, encantado com cada canto do teu corpo perfumado, te rezo améns profanos de te querer bem. De te querer tanto. Bebendo como demônio teu mel santo. Cada lábio. Com apelo pelo grelo. Os teus gritos de infinito mais bonito. Me agarra. Urra e esfrega enquanto me rega. Uiva. E toma a carga...

- Agora você quer? Então eu sento nessa vara. Tão dura. Que perigo, meu poeta tão lírico. Meu devasso. Como é delicioso o invadir do teu traço... eu faço... com um rebolado... ele virar um delírio infindável de galgar bem ritmado... safado... meu fauno, me fode, me come, grita meu nome, me rasga, me ama, me toma. Que falo, te falo, gemo... assim, essa delícia, arranha ainda mais e mais em cada carícia. Você me vicia, me queima viva.

- Minha rainha. Rainha. Minha. Minharainha. Ainda. Aí. Vinha. Sina. Sinta...

- Quicada atrás de quicada. Rola gostosa. Me bate, me acerta, me amarra, me larga, me cobre, me devora com a língua banhada da minha enseada. Meu mar de sereia danada tão sua na loucura em espiral da nossa jornada. Mais e mais, esquecida da paz, do pão, do chão, do céu ou do cais. MAIS! Nessa dança, nesse jeito, nessa carne, nesse canto, nesse embalo, cada espasmos, cada encaixe, cada forma, cada fonte, cada lava. Ali. Por fim. Nesse sem fim.

- Ai de mim, que a prosa se mostrou tão poderosa que nunca mais pode ser acabada. Floriu a rosa, perfumou minha imaginação alada. Estou agora com toda a percepção entregue à sua magnificidade encantada.

(Ela sorriu) - É meu absinto. Te roubar esse desejo caudaloso. É a fresta que eu preciso... (e partiu deixando labaredas de sorriso).

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Sobre o amor 20 anos depois


Antes havia cada um

20 anos depois

Somos dois

Fomos três

Somos quatro

Na verdade cinco de fato

Fomos seis mas o Marley se foi

Mas tem esse amor de família

Que nasceu dessa maravilha

Dessa perfeição dela que todo dia muito mais brilha

E eu apaixonado sempre me encanto

O amor é tanto

É o nosso esperanto

Tá sempre transbordando em cada canto

De todo jeito

Transborda do peito

No leito

Até na briga

No rir até doer a barriga

Na graça com que aceito

Um amor que se faz e que tá feito

A todo momento

Por isso que no casamento

Eu prometi um amor infindável

Nunca acabado

Sempre cuidando de ser refinado

E todo dia reinvento

Da maneira mais amável

Algo para retribuir essa dádiva que és

Por isso estou aqui sempre ao seu pés

Grato

Devoto

Amigo

Amante

Abraçado

Delirante

Um abrigo e outro tanto de perigo

Uma viagem

Um namorado pronto pra falar bobagem

Só pra te ver sorrindo

Pra limpar as lágrimas do teu choro

Para ver os fogos lá no alto do morro

Te fotografar com a lua

Te defender do seu perfeccionismo

Dar a mão pra gente ir se equilibrando na beira do abismo

Que pra toda essa vida dura

7305 dias de história toda nossa

Por mais que a vida possa

Você me cura

Por isso há um Jorge que jura

Foi a mais linda história de amor que até hoje eu já ouvi contar...




quarta-feira, 10 de maio de 2023

Mote




 Sonhei com a gente e uma moto 

Diversão daquelas de esquecer de tirar foto

Fato

Seu perfume no meu olfato 

Os cabelos dançando no meu peito

O vento aguçando o tato 

Pra não cair toda hora eu me ajeito 

E você rindo pergunta

- Pode ir?

E eu bobo sem jeito:

- Claro.

Afinal só me importa esse contato 

O mundo mesmo era só um borrão abstrato 

De te admirar que eu não paro

Mas o mar sumiu e virou tudo areia 

Eu, a moto e a sereia 

E um céu estrelado 

Deserto pra todo lado 

A moto pela trilha serpenteia

- Chegamos

Dedos entrelaçados

A pé uns passos a gente ainda passeia

Olhares vidrados 

Deitamos

- Parece um sonho...

Um beijo risonho que damos 

No peito eu te ponho

Um cafuné caprichado 

Vira um agito na escuridão de incendiar coração 

Você cabe todinha naquela conchinha e no correr da minha mão

Mas ao mesmo tempo é maior que a imensidão 

Entre o tesão, o carinho e a paixão 

Só a moto assiste essa união 

Em que o desejo nos faz levitar acima do chão 

E no deserto sem ter ninguém perto

Eu te aperto

E você

Estrela no firmamento totalmente estrelado

Crava sua maravilha no meu ser encantado

E fala

Deixa de papo furado

Me ama

Me trama

Me mar

Que ainda tem muito caminho e estrada pra gente poetizar

quarta-feira, 29 de março de 2023

Dia da sereia